O câncer quando chega faz um estrago, no corpo e na alma... É assim, não tem o que fazer, a não ser olhar para isso e tentar tirar daí alguma lição. Muito eu tenho pensado a respeito de tudo isso em que a minha vida tem se transformado. Tenho tentado controlar o incontrolável... Como se o fato de não ter saúde fosse resultado única e exclusivamente das minhas ações. É fato que aquando adoecemos uma parte nossa está gritando por socorro, ainda mais um câncer! Mas também é verdade que há pessoas que terão câncer e outras não o terão e isso independe da vontade de cada uma.
Nessa busca de controlar o incontrolável, tenho tentado fazer a minha parte, estou comendo melhor, evitando alguns tipos de alimentos, diminuindo a ingestão de industrializados e tentando diminuir o meu peso, o que não é tarefa das mais fáceis, mas reconheço como muito necessária. Além claro de buscar ter bons pensamentos, vigiar a mente e movimentar o corpo... Tudo isso aliado à tarefa de reinventar em mim, uma nova mulher.
Esses dias fiz uma postagem no Facebook a respeito do fato de ter perdido os meus cabelos, pela segunda vez, e como a gente ouve: "o cabelo é o de menos..." Só que não... A perda dos cabelos leva um pouco da nossa feminilidade, da nossa identidade e essa falta temporária nos obriga a reinvenção. Com certeza não nos vemos mais como a mesma pessoa, surge outra, que ainda não conhecemos mas que precisamos fortalecer para não desistir, para que a cabeça continue em ordem e em cima do pescoço...
É quase uma metamorfose invertida, para mim acho que foi, mas consigo olhar para isso com humor, pode acreditar! Sigo em frente, levanto a cabeça meio lagarta, meio borboleta, mas o mais importante de tudo: VIVA! Na certeza que posso superar muito mais do que imaginei. Descobri em mim uma força que vem de dentro e que me empurra para fora de mim mesma.
Mudamos é fato, ficamos carecas, algumas vezes engordamos e em outras tantas há muita perda de peso, mas no meu caso, não foi só isso! As mudanças externas são visíveis e qualquer um pode reconhecê-las. Porém existem outras, não físicas, marcas indeléveis, na alma, na psique, no modo de enxergar a vida. As urgências são ressignificadas, o momento exige pausas e reflexões, mas o que fica é muita fome de viver! Usufruir desse mundo de tanta coisa boa!
Lembrar que pode ser a hora de colher os morangos...
Um dia tudo acaba, mas não é agora, por enquanto sigo colhendo morangos.
Termino citando Clarisse Lispector, no romance 'A hora da estrela': " Meu Deus, só agora me lembrei que a gente morre. Mas - mas eu também?! Não esquecer que por enquanto é tempo de morangos. Sim."
É não é que é época de morangos?!
