Será que o esforço para continuar feminina é pedir muito?
Deve ser algum pecado mortal, além de vencer o câncer, ter uma vida quase normal.
Hoje quase mandei a dona de uma loja à pqp!
A criatura estava tentando me vender a parte de cima de um biquíni...
Primeiro me fez entender que fazia por medida, entrou na cabine mediu meu tórax, com prótese e sem prótese, depois adentrou o provador muito íntima minha já e começou a me ajudar a experimentar um sutiã, artigo ao qual eu não estava procurando, eu estava de lenço no pescoço e ela achou que era para esconder a prótese, o que não era verdade, pois hoje está mais fresquinho e botei o lenço por charme. Em seguida fez a vendedora vir com vários modelos prontos de biquínis para que eu experimentasse, experimentei e perguntei então se fariam sob medida, ela me disse que não, mas que eu não devia tentar esconder tanto, tinha que aceitar, afinal eu estava com
"saúde" e isso era o que importava, para que esconder? Quando perguntei se fariam um forro para inserir a prótese ela me disse: - "não isso tu mesma podes fazer de algodão, um saquinho..". Saco eu tive que ter e bem grande. Daí inchei no provador, pensei que ia chorar, pois achei de uma falta de sensibilidade, o fato de não ouvir o que eu estava procurando, além disso se não fazem sob medida, para que me medir? Me expor no provador, fazer mostrar o vazio, a cicatriz, para que? Provar os biquínís eu poderia tê-lo feito sozinha, tirei o seio, não o cerébro, não fiquei "retardada", nem com problemas para me movimentar.
Fiquei muito irritada com a situação, aí fui em outra loja, expliquei a situação e a vendedora me disse que fazem sob encomenda, mas que precisam de um modelo, não tiram medidas, foi mais discreta, (embora a gente perceba o choque no rosto, quando expliquei que tinha terminado há pouco a quimio) e combinei que levaria o meu sutiã com espaço para prótese, para ver se é possível. Pelo menos não escutei nenhum comentário ao que eu devo ou não valorizar nesta vida, depois de tudo era só o que me faltava!!!
Discrição é tudo o que queremos neste momento, não queremos nos expor muito.
Quando escrevo o blog, cuido para que a minha exposição não seja exagerada, embora que o meu objetivo é este mesmo, mostrar todas as facetas da doença e do seu tratamento, tudo o que me aconteceu, de bom de ruim e nunca esquecer que "aquilo que não me mata me deixa mais forte". Quem sabe antes desta experiência do câncer, eu não seria esta pessoa também, querendo resolver o problema sob a minha ótica, meu ponto de vista, sem ouvir a necessidade do outro?
Há de tudo nessa vida; "psicólogo de plantão", então nem se fala, tinha acabado de sair da minha terapia, momento no qual eu sempre saio mais reflexiva, se eu quisesse a opinião de alguém, eu pediria e não tenho paciência para quem não sabe das minhas dores e se acha no direito de dar palpite.